Ana Baldaia, em Londres e Bárbara Baldaia, em Lisboa



sweet crazy new york, la femme des femmes


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foi na inquietude da noite que me desconheci. foi no
momento intenso da chama que ardia no rio, como nao
poderia ser, como quem escorrega mas nao cai que eu
percebi que poderia ser, poderia ali, teria ate ja
sido.
e na forma nao havia maior identidade do que a da
entrega de quem trata de sorrir, de quem come por
prazer e bebe para nao sofrer. foi assim, rapida e sofregamente, indiscreta e desassossegadamente, sem que alguem soubesse, sem que nem a memoria ousasse e o corpo quisesse, sem ter conhecido. e podia ate nem ter sido, mas a palavra era mais intensa que o medo, ela era o desejo, ela era presente e para mim era tarde demais.
havia na imensa
liberdade um passo que era quase karma adivinhado,
sentido que se sabia fazer parte da vida, e era pois
minha alegria, ver, querer, corroer.
seria ainda eu menina.
a noite tinha ainda estrelas desconhecidas a olho nu,
e no nu, nao havia juizo final, so a harmonia repleta
que é o feminino.
fora da ordem mundial, era imprescindivel que eu me
tivesse reconhecido nesse momento, nesse plano tactil
volatil sensual.
e era sonho de quem nao tinha dormido, de quem deixa
uma mensagem no gravador e segue voando.
e a presenca do corpo fisico no sonho era a prova de
que eu estava viva, de que na ilusao havia ainda a
esperanca, o reconhecimento, a identidade. E no aviao,
a relacao.
E nao havia os factos, nao havia os lugares.
Eu nao tinha de comprovar nada, eu nao tive de pedir
nada.
A agua escorria, o corpo sorria.
E o resto sao imagens. e o caminho para o aeroporto
eterno. O carro mais pequeno mingando, encurtando a
respiracao, sufocando o coracao, como quem quer
partir, como quem perde asas.
E lembro ainda o cafe na mesa europeia.
O cafe curto, e o sorriso largo.

e depois parti.

and then i knew i loved her. yes, in that moment i did
love her.
like I love people. entirely and massively, like a
bloodsucker.
sweet new york city.

AB


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