Ana Baldaia, em Londres e Bárbara Baldaia, em Lisboa



Sem palavras ou descrição


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ha certas coisas que nao tem linhas narrativas, ha
quadros tao inexpressivos que nem linhas.
ha palavras,sons, cores. e ha memorias. que escolhemos
lembrar.
que escolhemos esquecer.
nao ha bom. nao ha mau. nao ha dualidades.
ha multipluralidades, multiculturalidades, diferentes
opinioes e ideias.
e depois ha crencas, filosofias, romances.
e ainda ha fotos representativas de realidades que
nunca existiram, pois nao ha realidade, senao a opaca
do meu, do teu, do seu sonho.
nada exisitiu jamais, tudo foi.
como a onda do mar.
ainda assim ha identidade. ha a necessidade de
perceber a verdade, de procurar a sensibilidade para
entender a essencia das coisas, para conhecer o
abstracto em cada um de nos, e nesse vazio submergir,
ate nao respirarmos jamais, como um bebe que saca
tanto leite do seio da mae que a magoa, que a seca,
ate que ela nao sinta nem sequer a sua propria fome, a
sua propria necessidade.
a vida e um enorme segredo. e dela nada sabemos. somos
pouco, somos muito, somos nem nada nem tudo, mas entre
o tudo e o nada importa conhecer, mais ainda importa
imaginar.
porque so sei que nada sei, ja foi entendido ha muito,
e agora percebo aristoteles, e os gregos, e o calor mediterranico, e as paisagens.
sim, agora, entendo porque existem as paisagens, assim como as lagrimas, que ainda correm na ausencia, no medo, na morte do animal que eu a mesa, como. e eu so sei que e na imaginacao, unicamente na imaginacao que eu vivo, que eu posso existir, e viver, e falar com o vento e com o sossego das fontes. na agua, ainda escuto o tempo, e vejo o arco iris e percebo porque estou longe a cada momento, e sinto profundamente que e pior, e pior e nao importa porque eu sei quem sou. haja o que houver eu sei quem sou. e espero.
escuta, por mais estranho que isto possa parecer-te,
acredita e mais estranho para mim. mas a vida e feita
de beleza. e e no estranho, e no interior da barata,
no sangue da vaca, no olho da cabra, no dente do
macaco que vive a beleza. e eu vi. eu vi, o
sangue da vaca no meu sangue, o olho da cabra no meu
olho, o dente do macaco no meu dente, e a essencia da
barata na minha essencia.
talvez as minhas palavras sejam estranhas, por vezes
ocultas ou demasiado portuguesas... se pudesse
escrever-te-ia em italiano, mas nunca me ensinaram
italiano. nunca me ensinaram italiano, e apesar de
tudo eu li o siddharta em italiano. eu li. eu ouvi.
mas nao ha nenhum poema para te dizer.
nem sei se vale a pena pedir-te o que te vou pedir,
escrever o que vou escrever. mas eu sou coragem. eu
sou menina. eu sou mulher. eu sou mar. eu sou somente determinacoes da linguagem. fredo. caldo.
o tempo passa e as gaivotas morrem, o tempo passa, e
os paises atravessam-se nas janelas dos comboios. dos trabalhos, tive todos. dos livros, quis tudo. das religioes, tirei muito. das pessoas, amei inteiro. do prazer, entreguei tudo. do amor, agradeco.

este. este. este.
oriente. oriente. oriente.
mantra, paz.
i did love her. i did.
now, i know, i did.
porque os sonhos nao mentem, mas adormecem.
sigo viagem.

AB


1 Responses to “Sem palavras ou descrição”

  1. Blogger Carrie 

    Li, reli e gostei muito.

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